26/11/2017 - 15h14 - Atualizada às 15h14 - POR ÉPOCA NEGÓCIOS ONLINE
Pesquisa da instituição brasileira em parceria com organizações internacionais descobriu como produzir em larga escala proteína eficaz na luta contra o vírus HIV
Utilizar sementes geneticamente modificadas para produzir em larga escala uma proteína eficiente no combate ao vírus da Aids rendeu à Embrapa um prêmio internacional, concedido pelo Consórcio Federal de Laboratórios do Médio-Atlântico (FLC MAR). A pesquisa foi desenvolvida pela empresa brasileira de pesquisa agropecuária em parceria com outras três instituições internacionais: Universidade de Londres, o Instituto Nacional de Saúde (INH) dos Estados Unidos e o Conselho de Pesquisa Científica e Industrial da África do Sul.
A pesquisa começou em 2005 quando pesquisadores brasileiros e norte-americanos passaram a estudar uma proteína extraída de algas marinhas, chamada cianovirina. A proteína é eficiente no combate à Aids, já que é capaz de impedir a multiplicação do vírus HIV no corpo humano. O objetivo final dos pesquisadores é desenvolver um gel, capaz de eliminar o vírus, para que as mulheres apliquem na vagina antes do relacionamento sexual. "Os países que receberem, no futuro, o gel vaginal à base de cianovirina não precisarão pagar royalties por essa tecnologia”, disse Elibio Rech, pesquisador da Embrapa e conselheiro do CIB (Conselho de Informações sobre Biotecnologia), por meio de nota.
Uma das vitórias dos pesquisadores para viabilizar o gel foi descobrir como obter a cianovirina em larga escala. Eles conseguiram comprovar que é possível introduzir o gene responsável pela produção da proteína no DNA da soja e depois extraí-la do vegetal.
Em artigo publicado na revista Science em 2015, mostrando os avanços da pesquisa, os cientistas afirmam que "grosso modo, se a soja geneticamente modificada for plantada em uma estufa menor do que um campo de beisebol (97,54 metros) é possível fornecer cianovirina suficiente para proteger uma mulher 365 dias por ano durante 90 anos".
"Tecnicamente, o mais difícil em todo esse processo já foi feito. Os próximos passos, agora, são produzir as sementes e gerar proteína em larga escala e, então, realizar os estudos pré-clínicos e clínicos”, disse Rech. Segundo o pesquisador, como essa soja possui fins médicos, a ideia é que ela não seja cultivada no campo, mas em estufas e casas de vegetação, sob condições controladas.
O projeto também pode ajudar a abrir portas em outras áreas. Segundo Reich, a técnica pode ser aplicada com várias outras moléculas, para emprego em vacinas contra a dengue e malária e em tratamentos contra o câncer de mama, por exemplo.
Mas fiquemos por enquanto com os avanços na luta contra a Aids, uma doença que segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS) atinge 20% da população adulta na Zâmbia e na África do Sul e que tem crescido no Brasil. De acordo com estimativas da Organização das Nações Unidas (ONU), a taxa de novos infectados pelo HIV subiu 3% no país entre 2010 e 2016, na contramão do restante do mundo, onde a contaminação pelo vírus registrou queda de 11% no mesmo período.